Alicerçados por esta pergunta, através da orientação de professores, alunos do Primeiro Ano do Ensino Médio elaboraram e conduziram uma pequena pesquisa na busca de respostas para compreender como pensa o jovem dekassegui(1) em relação ao seu futuro.
A pesquisa foi conduzida, na forma de uma enquete, com perguntas abertas sobre como os alunos se sentem em relação a suas vidas e ao seu futuro. Todas as perguntas foram sugeridas e elaboradas juntamente com os alunos.
Os resultados foram elaborados analisando-se as respostas de forma qualitativa. O pouco tempo para discussão dos resultados com a participação de todos os alunos, impediu que quantificássemos os dados obtidos. Mesmo assim, a pesquisa apresentou resultados bem interessantes sobre como pensam estes jovens que vivem imersos numa terceira cultura no Japão.
A Escola Hirogakuen se localiza na cidade de Ogaki, na província de Gifu no Japão. Criada há 14 anos, a Hirogakuen atende hoje aproximadamente 250 alunos do Ensino Infantil ao Ensino Médio.
RESULTADOS:
Sentimento em relação ao Japão:
Quando perguntamos se os alunos gostavam do Japão, as respostas foram um pouco confusas. Apesar da maioria dizer que gosta, eles citaram como justificativas a segurança, o conforto material e a tranquilidade, mas ao mesmo tempo relatam que o povo é frio e preconceituoso, que é o único país que conhecem, que não gostam da rotina e que lhes faltam liberdade. Veja abaixo alguns relatos:
“Não porque ficamos muito presos em casa, não temos muita liberdade”.
“Estou acostumada a viver aqui, mas não gosto, não sinto que é meu país e não sou considerada como japonesa e sim como estrangeira (Gaijin) (3)”.
“Gosto da cultura e da comida, mas as pessoas são frias”.
A maioria dos alunos está no Japão porque nasceu aqui e nunca teve a oportunidade de ir ao Brasil. Alguns relatam também que acompanharam seus pais, quando estes vieram trabalhar no Japão. Muitos deixaram claro que não se sentem confortáveis com isso, pois não participaram desta decisão.
“Praticamente fui obrigado, pois eu era ainda pequeno e vim com meus pais.” “Foi uma decisão dos meus pais a procura de uma vida economicamente melhor.”
“Eu vim para morar com meus pais que já estavam vivendo aqui”
Sonhos:
A grande maioria sonha em fazer Universidade, mas uma parte quer fazer cursos técnicos. Muitos dos entrevistados relatam que, para prosseguirem com seus sonhos, talvez precisem ir trabalhar em fábricas após a conclusão do Ensino Médio, afim de obter recursos para os estudos. Algumas pessoas relatam o caminho inverso: querem ter filhos e trabalhar em fábricas. Outras pessoas citam ainda que querem viajar para outros países e conhecerem outras culturas, fazer curso de línguas, fotografia, etc.
“Quero me formar em algo que gosto”
“Quero aprender outras línguas”
“Quero ter filhos e trabalhar na fábrica”
O que você mudaria em você?
Segundo a nossa pesquisa, muitos alunos disseram que não mudariam nada, que estão satisfeitos em suas condições atuais, porém a maioria apresenta sentimentos mais negativos, tais como: solidão, arrependimento e falta de confiança.
“Porque do jeito que estou agora não da para andar pra frente”
“Queria estar mais cercado de amigos e ser mais feliz”
“Queria ter mais coragem”
“Porque queria ser mais amigo dos outros e poder ajudar meus amigos ainda mais e ser mais forte”
CONCLUSÃO:
Diante dos dados coletados, percebe-se que a maioria dos alunos sonham em continuar os estudos na universidade ou em cursos técnicos.
Apesar disso, nota-se a falta de apoio da família e algumas pessoas relatam que não possuem condições financeiras para prosseguirem com seus sonhos, pretendendo ir trabalhar em uma fábrica no Japão para conseguir bancar seus estudos.
Muitos relatam que a vida é monótona, e muitos tem preguiça de estudar e gostariam de ter uma motivação maior para sair dessa rotina.
Percebe-se que é necessário um incentivo por parte da escola já que eles passam o maior tempo dentro dela, e a atenção dos responsáveis para um planejamento familiar que propicie o prosseguimento dos estudos universitários.
(1) Termo utilizado para classificar estrangeiros que vem ao Japão em busca de trabalho temporário.
(2) O II Fórum Educação Brasil Japão foi realizado na cidade de Hamamatsu, província de Shizuoka em 08 de dezembro de 2013.
(3) Esta palavra pode ser traduzida como “estrangeiro”, porém possui conotação preconceituosa.