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Minhas Memórias sobre Ciência e Cientistas

1/29/2013

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Neste artigo apresento uma breve reflexão do ensino/aprendizado de Ciências durante minha trajetória escolar.
Revisitar o passado contemplando de forma crítica o momento em que também fomos  crianças, adolescentes e alunos, pode ser uma forma interessante de compreender o nosso papel como educadores.
Os parágrafos em destaque pertencem a um pequeno livro que escrevi para meu curso de graduação em Pedagogia pela UFMT (Sonhos que Podemos Ter: Minhas Memórias de Estudante), e o texto completo pode ser acessado no link:
 Sonhos que Podemos Ter: Minhas Memórias de Estudante
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    Desde criança eu sempre fui muito curioso e sempre me interessei pela natureza, os seres vivos, ou em descobrir como as coisas funcionavam. Meu pai teve um importante papel na minha formação pois ele também é apaixonado por animais e sempre me contava sobre eles, tentava me explicar como as coisas funcionavam e muitas vezes até mesmo realizava pequenas experimentações para comprovar o que estava dizendo. Lembro-me claramente, de quando tinha uns 6 anos de idade, do meu pai me explicando que as abelhas jataís não tinham ferrão e que protegiam sua colmeia com uma “cera” que produziam, com a qual faziam um tubinho na entrada de seus lares. Segundo ele, este tubo, que ele chamava de cachimbo, era fechado a noite como uma porta, para evitar que outros animais adentrassem na colmeia. Ele me mostrou uma pequena colmeia no muro do quintal de casa. Eu pude observar este “tubinho” o qual ele quebrou me dizendo: “não se preocupe, elas vão construir tudo de novo”. Aí eu fiquei horas acompanhando o processo, vendo as abelhinhas trabalharem e, no dia seguinte, comprovar que elas realmente tinham reconstruído um novo cachimbo.    
   
    Meu pai, no entanto, estudou apenas até a segunda série do fundamental e todo conhecimento que tinha vinha do campo, onde trabalhou durante toda a adolescência e parte de sua juventude, antes de vir para a cidade. Devido a este fato, muitas das informações que ele me passava eram um pouco diferentes do que realmente acontecia, vinham carregadas de folclore e misticismo, assim o sapo realmente urinava em nosso rosto e nos deixava cego, a jibóia era venenosa e tinha um bafo perigosíssimo, entre outras coisas. Mas é inegável sua contribuição para o meu aprendizado e interesse por Ciências. E algo que me deixa hoje muito feliz é recordar como ele respeitava isto tudo em mim.

“Assim, aprendi a não temer os animais, mas sim a gostar deles. Vivia no quintal levantando pedras e tijolos a cata de insetos e outros seres pequeninos, carregando filhotes de pardais que caiam dos ninhos do telhado para dentro de casa, pegando peixinhos e girinos nos córregos e destruindo a entrada da casa das abelhinhas “jataí” no muro do quintal e observando, intrigado como pacientemente elas construíam tudo de novo(...). 
(…) Lembro-me também que, quando eu já tinha uns seis ou sete anos de idade, meu irmão vivia indo pescar e quando voltava trazia uma caixa de isopor cheia de peixes, muitos ainda vivos. Eu corria para a cozinha, enchia a pia de água e soltava os moribundos lá dentro, numa tentativa desesperada de salvá-los. Tinham várias espécies: lambaris, bagres, tilápias, entre tantos outros. Eu ficava então, pacientemente, observando-os nadar. Era um momento mágico... Quando chegava a hora de matá-los, pois a pia não podia ser transformada num aquário permanente, eu chorava e protestava. Meu pai ficava bravo com meu irmão por conta disso e dizia para na próxima vez trazer os peixes já mortos, acrescentando:  

—... Depois o menino fica aí desse jeito!   

Foi numa dessas idas e vindas, que veio um cascudo que meu pai logo tratou de me explicar detalhes sobre seus hábitos alimentares e habitat – ele dizia que o cascudo se alimentava do limo que crescia nas pedras e que por isso tinha a boca voltada para baixo. Ele me disse que podíamos criá-lo num tambor de ferro que tínhamos no quintal. Fomos coletar pedras, lavamos o tambor, enchemos de água e soltamos o peixe lá dentro. Era legal saber que eu tinha um peixe morando no quintal de casa, mas um tanto frustrante em não poder vê-lo, pois o tambor escuro me impedia de enxergá-lo mesmo durante o dia. Eu sempre ficava imaginando se ainda estava vivo. Vez em quando, meu pai esvaziava o tambor para limpá-lo e colocava o cascudo numa bacia de alumínio. Eu ficava brincando com ele, levantando sua barbatana. Dizia que era o meu tubarão de estimação. Tambor limpo era hora de tornar o peixe invisível novamente e ficar aguardando, ansioso, pela próxima faxina. Acho que este cascudo ficou conosco por uns dois anos até que, movido pela minha curiosidade de criança, comecei a colocar objetos no tambor, numa tentativa de interagir com o peixe.  Eu brincava de pescaria com um pedaço de barbante amarrado num cabo de vassoura, mas sem anzol. Alguns destes barbantes acabavam por cair dentro do recipiente. Ele se enroscou nestas tralhas toda e morreu. Quando fomos limpar o tambor lá estava o seu esqueleto. Foi algo terrível, que me marcou profundamente...” (SILVA, 2009).

    Na escola, no entanto, apesar de eu gostar de experimentar, de entender mais sobre o funcionamento das coisas, as aulas eram monótonas e conteudistas. Uma relação de conceitos e definições teóricas cobrados para a prova através de questionários, sem nenhuma experiência ou algo que pudesse relaciona-los com o nosso dia-a-dia.     
  
    Os professores seguiam rigidamente os livros-textos, onde o conteúdo se caracterizam pela valorização do método científico, com um conjunto de passos rígidos a serem seguidos para elaboração do conhecimento científico, com destaque para a observação e a experimentação como coloca LEITE (2004, p.31). Esta forma de ensinar, dentro de uma visão descontextualizada (ignorando as relações entre Ciência-Tecnologia-Sociedade-Ambiente) como apresentado por CACHAPUZ et al (2005) apud SOUZA et al (2011), me acompanhou até a Sexta Série quando então outros professores de Ciências passaram a lecionar a disciplina na minha escola. Até esta época, o ensino tinha uma característica empiristica pois durante a aulas os professores ensinavam ciência como uma interpretação dos fatos baseada em observações e experimentos que permitem estabelecer induções e que, ao serem contempladas, oferecem a definição do objeto, suas propriedades, e suas leis de funcionamento. As experimentações, no entanto eram raras e quando aconteciam muito limitadas (CHAUÍ, 2000). Na maior parte do tempo ficávamos apenas contemplando as imagens presentes no livro didático. Vale ressaltar também que a escola não possuía laboratório.    
   
    Ressalto, no entanto, que Ciências só me foi ser reconhecida como disciplina a partir da Quinta Série. Antes disso nem me lembro dos professores trabalharem esta disciplina, a não ser muito Português e Matemática além de Estudos Sociais e Educação Artística. A partir da Sexta Série me lembro de realizarmos experimentos e termos uma Feira de Ciências na minha escola. A professora da época incentivava o desenvolvimento de atividades, inclusive em casa, nos passando algumas experiências simples.

“(...)Ciência já me era algo familiar, era algo que tinha contato desde a infância. Poder ver nos livros fotos dos animais e informações mais profundas do que aquelas aprendidas com meu pai era no mínimo fantástico. Uma professora, ainda na quinta-série, conquistou minha admiração: Dona Eunice, a nossa professora de Ciências. Eu adorava Ciências e sempre consumia o livro antes das explicações. Quando Dona Eunice começava uma nova matéria eu já sabia do assunto e tratava de responder prontamente suas perguntas. Ela ficava impressionada. Ela despertou meu interesse, pois foi uma das poucas a me elogiar pelos meus trabalhos escolares. Sempre que a procurávamos, após as aulas, para discutir algum assunto dos livros ou de algo que havíamos visto na TV, ela disponibilizava tempo e paciência para nos ouvir e dar sugestões e opiniões”


“Na escola, a professora de Ciências anunciou que haveria uma Feira Científica já no primeiro semestre. Entusiasmados, mais que depressa começamos a procurar um projeto para apresentar.(...)
(...) Eu me lembrei de um brejo que havia perto da casa da minha irmã e, numa noite, munidos de lanternas, formos até lá e conseguimos dois animais (sapos). Um deles nós abrimos na casa de um amigo nosso, o Alexandre, que mais tarde faria parte do nosso grupo científico. 
A experiência teste foi um fracasso total, mas desta vez sem o show de horrores protagonizado pela lagartixa, pois tínhamos Clorofórmio. Durante o processo, o Alexandre cortou por engano, uma veia que fez com que o animal sangrasse muito e morresse em poucos minutos.
Mesmo assim, decidimos levar o projeto adiante e no dia da apresentação, informamos à classe que iríamos mostrar o funcionamento dos órgãos internos de um ser vivo. Em seguida, anestesiamos o sapo e desenvolvemos todos os passos da atividade que desta vez aconteceu sem incidentes. A professora adorou a apresentação e nossos colegas nunca mais se esqueceram daquilo.    

Hoje, quando avalio este momento da minha vida, e outros que não relatei nestas páginas como quando eu caçava borboletas para espetá-las em alfinetes ou ainda, quando retirava animais da natureza para mantê-los cativos no meu quintal, ainda tento entender como eu podia ser capaz de tais atrocidades. 
Era como se eu quisesse os animais por perto, mas sem me importar muito com o que sentiam ou se sentiam alguma coisa.   
 
Pois é, crianças possuem esse lado curioso e cheio de maldade que precisa ser lapidado(...)” (SILVA, 2009).   

    A proposta de aula, praticada pela professora da Sexta Série era, portanto, mais  investigativa uma vez que, nós alunos, participávamos do processo investigando os fenômenos e interagíamos utilizando os experimentos (BIZZO, 2002) apud SOUZA et al (2011). Porém, esta forma de ensinar não era algo comum na época e após terminar o  Sétimo Ano do Fundamental só fui encontrar professores como a Eunice na Faculdade.
Ainda hoje me recordo dela pingando ácido clorídrico em um pedaço de calcário e em uma concha de molusco, para mostrar a reação entre ácido e base. As aulas de Ciências eram o ponto alto, o momento mais aguardado durante a semana.    
  
     Acredito, pelas minhas lembranças, que durante este período eu tive uma professora que atendia muitas das nove necessidades formativas propostas por CARVALHO & GIL PEREZ (2003) apud SOUZA (2002) pois, ela detinha o conhecimento da matéria e conseguia com facilidade ministrar e dominar os conteúdos apresentados, orientava os alunos de forma a mostrar interesse pelo que estávamos desenvolvendo, nos avaliava não somente pelas provas mas também por trabalhos e experiências desenvolvidas (um tipo de relatório), além da nossa participação durante todo o processo.        


Referências Bibliográficas

CHAUÍ, M. Convite à filosofia. 7. ed. 2. imp. São Paulo: Ática, 2000. 440p.
LEITE, R. C. M. A produção coletiva do conhecimento científico: um exemplo no ensino de genética. Florianópolis. Tese (Doutorado em Educação). Centro de Ciências da Educação, Universidade Federal de Santa Catarina.  2004. 219 f.

SILVA, C. “Sonhos que podemos ter”: Minhas memórias de estudante. Trabalho apresentado para a disciplina Estudar a Distância: uma Viagem Acadêmica do curso de Pedagogia a Distância UFMT, acordo Brasil/Japão. 2009. Disponível em <http://www.slideshare.net/ClaudiodaSilva1/sonhos-que-podemos-ter-minhas-memrias-de-estudante>.

SOUZA, G. V.; MELLO, I. C.; SANTOS, L. M. P. L. Ciências Naturais: licenciatura em pedagogia convênio Brasil-Japão. Cuiabá, MT: Central de Texto: EdUFMT, 2011.

WIKIPEDIA. Emulsão. Disponível em <http://pt.wikipedia.org/wiki/Emuls%C3%A3o>.

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    Cláudio da Silva

    Sou Pedagogo e Biólogo e atualmente trabalho na Escola Brasileira Professor Kawase - Hiro Gakuen (Ogaki - Japão).

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